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Rebaixamento, doa a quem doer

por Aurelio Nunes* em 27 de Novembro de 2012 14:28

Márcio Martins manda por e.mail um artigo em que Juca Kfouri reabre a questão do rebaixamento dos gigantes do futebol brasileiro. Juca evoca - e diverge - de Luís Fernando Veríssimo, para quem deveria haver um dispositivo que impedisse equipes como o Palmeiras de caírem para a segunda divisão.

E eu que não sou Kfouri, muito menos Veríssimo me animo a meter a colher nessa briga.

Enquanto paulista e palmeirense, me sinto até tentado a concordar que a Série A fica um tanto órfã quando perde um clube que soma 10 títulos nacionais e um continental e está entre as cinco maiores torcidas do país. Vinda de alguém como Luís Fernando Veríssimo, que é escritor e Colorado e, portanto, nunca viu seu time cair e não tem intere$$e direto no assunto, a ideia ganha uma aura de legitimidade que nunca teve quando Eurico Miranda fazia e acontecia na CBF pra virar a mesa e promover a volta do Fluminense pela porta dos fundos.

Mas como jornalista e, principalmente, como socialista, fico com o corintiano Juca Kfouri. O Brasileirão dos pontos corridos moralizou o futebol brasileiro. Deu à competição o que se chama no Direito de "segurança jurídica", que é a maravilhosa sensação de sabermos como uma coisa vai acabar antes mesmo de começar. E que, aconteça o que acontecer, doa a quem doer, as regras serão respeitadas. Parece pouco para o maior campeonato do país pentacampeão mundial, mas quem acompanha o futebol há mais de 10 anos sabe o quanto avançamos. 

O Brasileiro dos pontos corridos é o mais justo e tinha tudo pra ser o mais chato dos campeonatos que existem, exceto para a torcida do time campeão. Mas eis que inventaram mais três vagas para a Libertadores e ampliaram de dois para quatro o número de rebaixados. E o Brasileirão pegou fogo, porque não existe mais aquela história de "clube sem pretensões" na metade da competição. Todo mundo tá brigando por alguma coisa o tempo todo e se não tá brigando por nada disso que eu citei ainda tem uma vaga na Sul-Americana pra beliscar.

Não fosse pelo rebaixamento, o Brasileirão seria de uma monotonia atroz. Garantir a quem quer seja o direito de não cair, só por causa da camisa ou do passado, seria um tiro no pé, um gol contra, o primeiro passo para decretar o fim do sistema de pontos corridos.

Uma vez instituída a proteção contra a queda, a primeira pergunta a ser feita é: quem teria o direito? Só a turma do eixo Rio-SP-Sul-Minas? Por que não o Bahia, bicampeão brasileiro? Porque não o Sport, campeão brasileiro e da Copa do Brasil? Mas peraí, se entrarem estes também entrariam o Coritiba, o Atlético-PR e o Guarani, legítimos campeões nacionais, assim como o foram Criciúma, Paulista, Santo André. Haja vaga pra tanto time numa divisão, haja critério pra tamanha confusão!

O rebaixamento é o que dá molho ao Brasileirão. Toda temporada tem um grande caindo e dois ou três na corda bamba. Nos últimos anos, desfilaram pela Série B o Botafogo, o Grêmio, o Atlético-MG, o Corinthians e o Vasco. O Palmeiras é um caso à parte porque é reincidente em um período de 10 anos, o que significa que não aprendeu as lições que a Série B de 2003 ensinaram. Por isso mesmo precisa voltar. E se não aprender, precisa ficar mais tempo, ou cair pra Série C, a bem do futebol brasileiro e para seu próprio bem.

Nesta mesma década, Bahia e Vitória experimentaram descer para o porão do futebol e deram o exemplo de que é possível voltar pela porta da frente. Neste ano, o Vitória subiu no sufoco. Poderia ter fracassado? Poderia. Seria uma tragédia terminar em quinto um campeonato que disputou o título desde o começo? Seria. Mas não seria o fim do Vitória, como não será o fim do Bahia se, por acaso, não conquistar domingo o ponto salvador.

*Aurelio Nunes é coordenador da equipe Galáticos Online


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