TV RÁDIO
Buscar

Torcedores, uni-vos!

por Aurelio Nunes, do Galáticos Online em 07 de Maio de 2012 23:46

A grande discussão do momento no futebol baiano é a decisão tomada pela diretoria do Bahia de abrir mão de vender 821 ingressos para a torcida do Vitória na decisão do Baianão 2012. Foi a alternativa encontrada pelos cartolas para responder à pressão de fanáticos tricolores, que não admitem oferecer aos rivais mais que o mínimo de 10% do espaço destinado aos visitantes no estádio Roberto Santos.
 
Descobriram que o gradio que separa as torcidas no Pituaçu foi instalado no lugar errado, e cede aos "forasteiros" 4.036 lugares, em vez dos 3.215 exigidos pelo Estatuto do Torcedor. A Sudesb lavou as mãos, mas o Bahia faz questão de pagar pela redução da gaiola. Autorizado a levar a empreitada adiante, teve de adiá-la ao constatar que a obra demandaria pelo menos cinco dias. Como antes disso tem o jogo contra a Portuguesa, pela Copa do Brasil, a mudança foi transferida para a semana. 
 
Onde está escrito que o visitante tem direito a PELO MENOS 10% dos ingressos? No Estatuto do Torcedor. E onde está escrito que o visiante SÓ PODE TER DIREITO A 10%? Em lugar nenhum, a não ser na cabeça de quem prefere pagar 500 pra ver o outro não ganhar 100. 
 
A cota mínima de 10% foi concebida pelo Legislador para proteger os visitantes do apetite voraz dos mandantes. Há quem jure que o Vitória seria um deles. Sou contra, mas devo reconhecer que foi este dispositivo do Estatuto do Torcedor que impediu um absurdo ainda maior no futebol baiano: a adoção dos jogos de torcida única, defendidos pelo Ministério Público, Polícia Militar e pelo Bahia sob o pretexto de garantir "a segurança do torcedor". 
 
A cota é burra, porque desconsidera a possibilidade de prejuízos bem maiores que os R$ 24 mil que o Bahia deixará de arrecadar no domingo. Ou será que ninguém levou em conta que se o Vitória tivesse ganhado por 4 a 0 no Barradão, o único espaço do Pituaçu a lotar neste Dia das Mães seria o reservado aos visitantes? Ou que o mesmo vazio demográfico nas arquibancadas também poderia acometer o Barradão em eventual goleada tricolor no jogo de ida no Pituaçu?
 
Mas este é o menor dos problemas do Estatuto, até porque o torcedor baiano é sábio e não se dobra. O visitante, qualquer que fosse, daria um jeito de se infiltrar no lugar destinado ao mandante, dividindo com ele as arquibancadas, promovendo o reencontro e o congraçamento dos co-irmãos rivais no mesmo espaço, como sempre foi na Fonte Nova e nunca deveria ter deixado se ter sido em nenhuma arena esportiva da Bahia, do Brasil e do Mundo.
 
Por isso defendo o fim da divisão de torcidas. Afinal, há quem interessa este apartheid senão às facções uniformizadas, maiores patrocinadores do terror nos estádios? A mim e a você, que tenho família e amigos que torcem para os dois times e que gostaria de ter o direito de  dividir com eles o mesmo espaço na arquibancada, como fazemos no teatro, no cinema, na casa de shows? Ou aos intolerantes incapazes de discernir um jogo de futebol de uma batalha tribal? 
 
Aliás, que se mantenha a divisão de torcidas, sim, mas somente para os fanáticos desequilibrados. Estes sim merecem uma jaula de proteção no canto mais afastado possível, pois em 2012 foram os responsáveis diretos por pelo menos sete mortes de torcedores no Brasil (veja lista abaixo). É o mesmo número de vítimas da maior tragédia do futebol brasileiro, ocorrida em 25 de novembro de 2007, na Fonte Nova. Ano que vem, a Velha Fonte volta à ativa, com Nova roupagem. Oxalá, seja capaz de promover a reunião de rubro-negros, tricolores e rivais de todas as cores e origens.


Torcedores assassinados em 2012

25/03 - (SP) O palmeirense André Alves, 21 anos, foi assassinado com um tiro na cabeça durante confronto entre 500 integrantes das uniformizadas Mancha Verde e Gaviões da Fiel, do Corinthians, em um posto de gasolina da Zona Norte paulistana, horas antes do jogo entre as duas equipes. 
 
27/03 - (SP) O torcedor palmeirense Guilherme Vinicius Jovanelli Moreira, de 19 anos, teve morte encefálica decretada dois dias após ser espancado por corintianos. A polícia apura denúncias de emboscada e de que a briga havia sido agendada pela internet.
 
31/03 - (GO) Diego Rodrigo Costa de Jesus, 23 anos, integrante da Torcida Força Jovem, foi atingido por um tiro durante briga de torcedores do Goiás e do Vila Nova, no Parque Vaca Brava, em Goiânia. Segundo a imprensa goiana, foi a nona vítima de brigas entre torcedores organizados em apenas 10 meses em Goiás. A cada 37 dias um torcedor morre em Goiânia, indicando que para cada torcedor assassinado, há outro crime executado para vingar sua morte.
 
04/05 - (RJ) Bruno de Santana Saturnino, 31 anos, torcedor do Flamengo, morreu no CTI do hospital Salgado Filho, no Méier, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Ele havia sido espancado por torcedores do Vasco na semifinal da Taça Rio, seis dias antes, no estádio do Engenhão.
 
04/05 - (MG) Um integrante da torcida organizada Galoucura foi assassinado no Bairro Santa Tereza, na Região Leste de Belo Horizonte. O crime foi após o jogo entre Atlético e Goiás pela Copa do Brasil, que aconteceu na noite do dia anterior, na Arena Independência. Samir Abner Vieira da Silva, 23, foi morto a tiros na porta de um estabelecimento comercial na Rua Hermílio Alves por dois homens em uma moto não identificados, acusados por testemunhas de trajarem uma camisa da Pavilhão Independente, torcida organizada do Cruzeiro, dissidente da Máfia Azul. 
 
15/04 - (PE) Duas mortes registradas após o clássico Sport x Santa Cruz: Stephany Wanessa Gouveia, de 18 anos, da Torcida Jovem do Sport, socorrida com sinais de hemorragia após o envolvimento de seu namorado em um assalto nas imediações do estádio da Ilha do Retiro, e Caio César Reis, atropelado por um ônibus enquanto fugia de uma briga entre torcidas organizadas nas proximidades do Parque 13 de Maio, no bairro de Santo Amaro. 
   

Whatsapp

Mande um Comentário
Os comentários não representam a opinião do portal Galáticos Online. A responsabilidade é do autor da mensagem.

Ver todos

Publicidade

Fotos

Publicidade

Publicidade