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A introdução do futebol na cidade do Salvador

por Thiago Palma Pacheco em 01 de Julho de 2009 21:49

Tendo como berço a Inglaterra, surgindo na segunda metade do século XIX, o futebol se solidificou como esporte, se expandindo para outras partes do mundo onde rapidamente ganhou vários praticantes e admiradores. Foi introduzido oficialmente no Brasil, já no período republicano, em 1894, por um brasileiro de origem inglesa, Charles Miller, que ao retornar de seus estudos na Inglaterra, onde atuou como jogador, trouxe a bola e outros equipamentos para a prática futebolística no Brasil, ficando conhecido como o pioneiro do futebol em solo brasileiro.

 

Embora haja indicações de que, de forma improvisada, o futebol tenha sido aqui praticado antes dessa data, já que, segundo o historiador André Capraro, que desenvolve pesquisas na área do futebol, trabalhadores ingleses que ocupavam cargos importantes em empresas britânicas, no Brasil, já o praticavam, assim como alguns marinheiros estrangeiros brincavam com a bola em praias cariocas, antes do retorno de Miller.

 

Como já foi mencionado acima, é questionável o pioneirismo de Miller em relação à introdução do futebol no Brasil. Ultimamente muitas pesquisas foram realizadas, onde se questiona esse fato. É bem provável que o futebol já tivesse chegado ao Brasil antes de 1894, embora não tenha causado tanta repercussão.

 

Após ter chegado a São Paulo, o futebol, num breve espaço de tempo, se fez presente na Bahia, através de José Ferreira Júnior, o Zuza Ferreira, que voltou da Inglaterra após concluir seus estudos, com a finalidade de ocupar um cargo na filial do Bank of London. Logo que aqui chegou, no ano de 1901, Zuza reuniu seus amigos para uma tentativa inicial da prática desse esporte, tendo como local escolhido o Campo dos Mártires (atual Campo da Pólvora). A partir de então, equipes começaram a ser formadas e os primeiros jogos tiveram início na capital baiana. É importante destacar que a prática desse esporte era, inicialmente, um privilegio das elites soteropolitanas.

 

O que chama atenção e que reflete a discriminação e desigualdade social existente no Brasil e na Bahia é que nessa mesma temporalidade, o futebol na Inglaterra, já abrira caminho para praticantes de diversas classes sociais, tento atingido, assim, um número de quase um milhão de jogadores. Era praticado por funcionários das grandes fábricas, o que contribuía de forma bastante positiva para manter o equilíbrio da saúde, despertando também grande interesse da população que fazia questão de assistir aos jogos das primeiras ligas organizadas, começando a surgir os grandes estádios ingleses.

 

Os primeiros clubes de futebol da Bahia foram Bahiano de Tênis, Club Internacional de Cricket, Santos Dumont, São Salvador, Esporte Clube Vitória (o Leão da Barra), Esporte Clube Ypiranga (o Mais Querido), Botafogo Esporte Clube etc., sendo que esses dois últimos eram clubes menos elitistas, onde havia jogadores das classes mais humildes, tendo, em vista disso, uma maior admiração popular. Outros times importantes, na Bahia, só surgiram muito tempo depois, entre os quais podem ser citados o Esporte Clube Bahia (o Tricolor de Aço), em 1931, Galícia Esporte Clube (o Demolidor de Campeões) – criado pela colônia espanhola da Bahia – Guarany, Leônico etc.

 

Atualmente, o Campeonato Baiano de Futebol é a competição mais importante do Estado da Bahia, organizado pela Federação Bahiana de Futebol (FBF), contando com os times da capital e também de várias cidades do interior. Essa competição é a mais antiga do Nordeste do Brasil e o segundo campeonato estadual mais antigo do país. A sua primeira edição foi realizada no ano de 1905, da qual participaram apenas quatro equipes, que foram: Clube Bahiano de Tênis, Club Internacional de Cricket (time formado por ingleses), São Salvador e Vitória, que faziam parte da primeira Liga, tendo como time vencedor o Club Internacional de Cricket, conquista que causou uma reação negativa na torcida, pelo fato de ter saído vitoriosa uma equipe constituída apenas por estrangeiros.

 

É importante esclarecer que essa Liga, no período de 1905 a 1912, não admitia a participação de negros nas competições. Desde a sua criação, esse campeonato nunca deixou de acontecer, porém só em 1954 é que as equipes do interior do Estado passaram a participar da competição, sendo que apenas duas delas conseguiram conquistar o título de campeão baiano. Essas equipes foram: Fluminense de Feira de Santana, nos anos de 1963 e 1969, e o Colo-Colo de Ilhéus, em 2006.

 

No dia 14 de setembro de 1913, foi fundada, na capital baiana, a Liga Bahiana de Desportos Terrestres com a finalidade de promover a educação física e moral de seus atletas, tendo sob seu comando as Ligas dos demais municípios baianos que, na verdade se constituíam como Sub-Ligas, que deveriam ter no mínimo três equipes. Administrada por uma diretoria que anualmente se renovava, essa Liga tinha por finalidade representar e propagar os esportes da Bahia, sobretudo elaborando os torneios, campeonatos etc. O seu estatuto trazia requisitos que deveriam ser cumpridos pelos clubes que pretendessem fazer parte dessa associação, como por exemplo: ter no mínimo um ano de fundação; possuir sede; ter uniforme, que deveria ser entregue à Liga para aprovação; pagar uma quantia referente à filiação, entre outros. Desse modo, as equipes que fossem aceitas passariam a gozar de direitos, como sejam: participar dos campeonatos organizados pela Liga; utilizar os campos para jogos, convidar equipes de outros Estados ou Nações para a realização de partidas amistosas etc.

 

Esse mesmo ano foi muito importante para o futebol baiano, já que foram inseridos alguns clubes com representação popular no campeonato, ocasionando o descontentamento das equipes mais tradicionais do Estado, que tinham como representantes membros das elites. Essa nova Liga (atual Federação Bahiana de Futebol) foi organizadora de uma competição que agregava uma maior quantidade de equipes. É nesse momento que times mais populares, cujo plantel era formado por pessoas de classes inferiores, começaram a ter uma chance dentro de uma competição de futebol. Podemos citar como exemplo a equipe do Ypiranga que era uma das mais apreciadas pela população mais humilde. Esse time teve um grande aproveitamento, conquistando, inclusive, títulos dentro dessa nova Liga.

 

Além do Campo dos Mártires, existiam outros quatro locais, liberados pela Intendência Municipal, para que o futebol fosse praticado, como sejam: a Quinta da Barra, onde o Esporte Clube Vitória treinava; o Santos Dumont, em Itapagipe, atual Largo do Papagaio; Campo do Barbalho e o Campo do Rio Vermelho.

 

O futebol, cujas regras foram facilmente assimiladas pelos seus praticantes, causou no baiano uma forte emoção, conseguindo atingir pessoas de classes inferiores que, devido à falta de recursos, substituíam a bola de couro, que era um produto bastante caro por bolas improvisadas, não ficando essa prática restrita apenas à capital baiana.

 

Apesar de já não ser mais praticado apenas por jovens das classes privilegiadas, era ainda muito grande o preconceito em relação aos jovens de outras classes, já que havia clubes que não aceitavam negros e pessoas mais humildes entre os seus jogadores. Como exemplos, podemos citar o Esporte Clube Vitória e o Bahiano de Tênis. Nos demais estados do país, esse preconceito existia tanto quanto na Bahia, especialmente em clubes do Sul e do Sudeste, como Coritiba, Grêmio, Botafogo, Fluminense, Palmeiras, São Paulo etc. Segundo e pesquisador Antônio Risério, até mesmo o Flamengo, que hoje em dia tem a maior e mais popular torcida do Brasil, não aceitava negros no seu elenco, nas primeiras décadas do século XX. Um jogador do Fluminense do Rio de Janeiro chegou a utilizar o pó-de-arroz para tentar disfarçar a sua condição de mulato, receoso de que a torcida e alguns dirigentes não o aceitassem, por se tratar, naquele momento, de um clube das elites, daí o apelido da agremiação. Os clubes que se constituíam de operários, negros, mulatos, como o Vasco da Gama, no Rio de Janeiro e o Ypiranga, na Bahia, tinham melhor desempenho nos jogos e campeonatos que disputavam.

 

Atualmente, o Esporte Clube Bahia é o time de maior torcida do Estado, mesmo com um grande crescimento da torcida do seu arqui-rival, o Vitória. A situação nas décadas de 30 e 40 do século XX era bem diferente; a equipe de maior prestigio popular e de maior torcida era o Ypiranga, em vista de suas conquistas. O Bahia começou a ter um aumento da sua torcida na segunda metade da década de 50, período em que conquistou a Taça Brasil. Se em 1931, ano da sua fundação, a equipe do Bahia era formada por brancos universitários e membros da elite em geral, na década de 50 essa equipe começou a utilizar jogadores mestiços e de origem mais humilde, tendo início então uma maior conquista dos títulos estaduais e a conseqüente conquista do campeonato da Taça Brasil, em 1959. Com isso, no final da década de 50, o Bahia se tornou o time mais popular e com a maior torcida do Estado.

 

Se na década de 20, do século passado, a cidade do Salvador só dispunha de um modesto estádio, o Artur Rodrigues de Morais, mais conhecido como Campo da Graça, com o crescimento e popularização do futebol, foi necessário que se construíssem novas praças esportivas em todo Estado, como por exemplo a Fonte Nova, na capital baiana e os diversos estádios espalhados pelo interior.

 

Autor: Thiago Palma Pacheco

Bacharel e Licenciado em História pela Universidade Católica do Salvador


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